O exército patrulhando as ruas


A fotografia de Koen Wessing pode causar diversas sensações com o contraste encontrado em seu interior. 

Em 1979, Koen Wessing registrou, na Nicarágua, a contrastante fotografia intitulada “O exército patrulhando as ruas”. A imagem de três soldados em patrulha e o caminhar de duas freiras no período da Revolução Sandinista é de uma dualidade notória.

Koen Wessing, Nicarágua, 1979.


Koen Wessing nasceu em Amsterdã no ano de 1942. Apaixonado por fotografia e com uma alma viajante, visitou vários lugares do mundo e, por causa disso, registrou muitos acontecimentos em diversos países. Em 1978, Wessing viajou até a Nicarágua para fotografar a família Somoza, cujo regime ditatorial começava a ruir, por causa da Revolução Sandinista que dava seus primeiros passos na época. Um ano depois, voltou ao país para documentar a mudança ocorrida em virtude dos conflitos civis.

A fotografia “o exército patrulhando as ruas” mostra um cenário em ruínas. As casas parecem desabitadas e a superfície da rua está destruída, consequência dos combates e dos bombardeamentos que aconteceram na tentativa de conter a Revolução. O sistema ditatorial de Somoza foi repulsivo e violento. Por causa desta ditadura, a realidade social da Nicarágua era crítica, já que a maioria da população vivia em uma situação de extrema miséria. É um cenário doloroso, mas que resiste à brutalidade que está presente na fotografia.  

Além do local danificado, a fotografia também carrega uma dualidade evidente, pois é mostrado duas freiras passando por três soldados em patrulha. Por fazerem parte da Guarda Nacional de Anastasio Somoza, a imagem dos militares, a meu ver, carrega uma violência exacerbada causada por um governo repressivo.

Em contraste com os soldados, a imagética da freira, na minha perspectiva, remete à tranquilidade e paz. Por causa disto, vê-las em um cenário bélico me causou estranheza na primeira vez que observei a fotografia. Entretanto, percebi um certo cansaço e uma certa preocupação com um passado doloroso, um presente duro e um futuro incerto no olhar de uma das freiras. Com isso, penso que elas podem ser um símbolo de resistência.


#leitura é uma coluna de caráter reflexivo. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, histórica, política e social. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor as postagens da coluna? É só seguir este link.

Links, Referências e Créditos
  • ROLAND Barthes. A câmara clara. 7 ed. Rio de Janeiro: Nova fronteira. 2018 

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