O garoto judeu de Varsóvia

A foto que se tornou o símbolo da violência praticada contra crianças na Segunda Guerra Mundial. 

O fotógrafo responsável pela fotografia é desconhecido, mas sabe-se que ela foi feita no ano de 1943 e retrata uma multidão de pessoas com as mãos para o alto, em destaque há um menino assustado, logo atrás dele há soldados nazistas armados. O local da foto é Varsóvia na Polônia, durante um levante de judeus, como última tentativa de expulsar as tropas alemãs da cidade.

Autor ou Autora Desconhecido(a) 

A foto foi publicada no The New York Times em 1945, porém ficou famosa apenas nos anos 70, quando saiu na capa da edição inglesa do livro “A estrela amarela: a perseguição aos judeus na Europa” de Gerhard Schoenberner.  Depois disso, ela apareceu em inúmeros lugares e por causa disso, se tornou um símbolo da violência praticada contra crianças durante a Segunda Guerra Mundial, sendo colocada no ranking das 100 fotos mais influentes da revista Time. 

Há muita controvérsia em relação ao futuro do garoto. Muitos dizem que ele foi morto um pouco depois da foto. Já vários historiadores acreditam que, a julgar pela aparência e pelos uniformes dos soldados, eles estavam ali apenas para transportar os prisioneiros, indicando a possibilidade de que ninguém, na fotografia, foi executado naquele momento. Também existem várias pessoas que dizem ter conhecido ou mesmo assumem ser o garoto da foto. 

A única pessoa propriamente identificada na foto foi o homem que segura a arma. Seu nome é Josef Blösche, um oficial de alta patente da SS. Ele, que posa para câmera com uma expressão de orgulho e grandeza, foi julgado no tribunal de Nuremberg, onde foi sentenciado à morte por crimes contra a humanidade. Ironicamente, a fotografia, para qual ele posou com altivez, foi utilizada como prova cabal para sua condenação. 

Da mesma forma que não é possível ter certeza da identidade do garoto, também não é possível apontar a do fotógrafo(a). Mesmo não sabendo quem realmente foi responsável por tomar a foto, é curioso pensar em como a presença da câmera impactou todos ali. 

Nessa situação, a câmera não se diferenciava de um instrumento bélico, já que o fotógrafo dispara o obturador da mesma forma que os soldados disparavam suas armas em direção às pessoas durante a ocupação de Varsóvia. O efeito da câmera,  sobre a moral e esperança do povo oprimido retratado na foto, também não difere demasiadamente dos efeitos provocados pelas submetralhadoras. As fotografias feitas durante a ocupação foram utilizadas nos relatórios estratégicos e também para propagandas anti-semitas, sendo que ambos contribuíram muito para o extermínio do povo judeu. 

As câmeras fotográficas são amplamente relacionadas aos instrumentos bélicos, desde a maneira como muitos fotógrafos se relacionam com seus equipamentos até com as pessoas fotografadas. Essas relações facilmente poderiam ser comparadas a um caçador e sua presa, até mesmo através de nomenclaturas como “disparo” ou “metralhada”

Na foto em questão, podemos ver um bom exemplo do fotógrafo como caçador e as pessoas fotografadas como presas. Sua posição demonstra que ele está ao lado dos soldados e não dos judeus. Na esquerda da foto, uma criança ergue as mãos ao alto, olhando diretamente para a lente. Seus olhos transparecem uma mistura de curiosidade e medo, como se ela não soubesse diferenciar se aquilo era apenas um objeto inofensivo ou uma arma de fogo. 

  

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