Resgate da ancestralidade negra

A ancestralidade resgatada em meio às águas flui se mantendo cada vez mais viva.

A fotografia abaixo foi retratada pela artista visual Aline Motta, durante uma residência artística na Nigéria. Lá, desenvolveu o trabalho audiovisual chamado de “(Outros) Fundamentos''. Este projeto teve como objetivo desenvolver conexões entre o país africano e o Brasil, utilizando da água para realizar esta união.

Mulher negra com trajes coloridos remando numa canoa. Ao fundo há casas de palafitas, pessoas reunidas ao redor delas e mais canoas ancoradas.
Aline Motta

A imagem mostra uma mulher feliz remando numa canoa. Ela não parece fazer o mínimo esforço ao remar, está tranquila e mantém seu olhar no horizonte. Suas roupas coloridas contrastam com o cinza das águas, trazendo mais vida à si e aumentando o foco sobre sua figura. No fundo da fotografia encontra-se uma vila com casas de palafitas que se ligam por pontes. A vila parece ser bem simples, aparentando pertencer a uma sociedade que se mantém através da atividade pesqueira.  

A água aparenta ser um importante fator na vivência dessa comunidade. Eles demonstram terem se adaptado a ela e aproveitado de seus benefícios para obter prosperidade. O oceano que permeia a vila sempre esteve ali, fornecendo alimentos para sua sobrevivência. Essas águas que ali se encontram rumam em outras direções levando as histórias daquele povo consigo, mantendo viva a cultura.

Por meio das águas, povos foram retirados de seus países de origem e trazidos à força para serem escravizados no Brasil. Apesar de toda a violência cometida contra eles, as suas culturas persistiram. Mesmo que muitas vezes apagadas, elas se mantiveram resistentes como a água. 

Por meio dos trajes da mulher, é possível ver elementos da cultura africana que chegaram até o Brasil e que permanecem como símbolos de resistência ao longo da história. Esses elementos ainda necessitam ser resgatados para que não se perca as origens desses povos, bem como toda a história de luta que se encontra por trás desses símbolos.

O fluxo da água move os olhos para as casas, para o que está ficando para trás, as memórias, as lembranças de um povo vão se revolvendo com as marés. A água em seu ciclo infinito leva as tradições para todos os cantos e retorna ao seu local de origem. Para mim, a água sempre esteve presente, a cada copo d'água tomado, a cada mergulho, a cada banho quente, sempre renovando a vida, fui crescendo com sua força transmitida a mim, enquanto ela observava tudo fazendo parte quase inteiramente do meu corpo. Minha história está nela e sua história está em mim.

#leitura é uma coluna de caráter crítico, com periodicidade semanal. É publicada toda quarta-feira pela manhã. Trata-se de uma série de críticas de imagens fotográficas de relevância artística, cultural, estética, histórica, política, social ou técnica. Nela, a autora ou o autor da postagem compartilha com os leitores a sua leitura acerca da obra abordada. Quer conhecer melhor a coluna #leitura? É só seguir este link.

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Como citar esta postagem
PAES, Nathalia. Resgate da ancestralidade negra. Cultura Fotográfica (blog). Disponível em:<https://culturafotograficaufop.blogspot.com/2022/04/resgate-da-ancestralidade-negra.html>. Publicado em: 1 de jun. de 2022 Acessado em: [informar data].

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