Caldas Novas, Goiás: fotografias em tempos de pandemia

Impactos causados pela pandemia nas paisagens de Caldas Novas, Goiás. 


A modernização do lazer e turismo e o planejamento territorial levaram a cidade de Caldas Novas, no estado de Goiás, a se tornar um dos principais destinos hidrotermais do mundo. Tal processo foi fortalecido pelo engendramento de uma política de Estado e de preços que atendessem às necessidades de todas as classes sociais, onde a parceria entre agentes públicos e privados é essencial para assegurar a perenidade da referida atividade. Nessa paisagem, as atividades inseridas na cadeia produtiva do turismo, principalmente as que se referem à hotelaria, reproduzem as contradições do mundo de vida capitalista, pois materializam relações espaciais e de poder em lugares diversos.


Av. Cel. Cirilo Lopes de Morais – a ausência do visitante.



Nesse cenário, o turismo e os respectivos negócios impuseram ao principal destino turístico goiano, nas últimas décadas do século XX e primeiras do século XXI, uma pujante transformação da cidade que é turística. Tal situação fomentou um vultoso progresso econômico e, ao mesmo tempo, uma relação complexa entre residentes e turistas, mas sem grandes conflitos perceptíveis. Essa atividade permitiu estabelecer nexos interpessoais e intergrupais, na medida em que se tornou fundante para a vida no lugar.

Diante dessas contradições, vale considerar a realidade e as incertezas provocadas pelo Novo Coronavírus (Covid-19) no urbano calda-novense. Era março de 2020, início do tempo pandêmico, saímos para registrar cenas de um dos principais destinos turísticos do cerrado brasileiro que, por duas semanas, se tornou vazia e irreconhecível.

Rua do Turismo.

Escultura de Carlos Albuquerque na Praça da Fonte, nas proximidades da feira do luar.

Com o fechamento da atividade turística ocorreu o afloramento da água termal no centro da cidade.

Enfatiza-se que, no cenário de 2020, hotéis, clubes, comércios e a dinâmica local se silenciaram diante de um contexto global de pandemia. Por conseguinte, as fotografias mostram que falar de turismo termal é um dos equívocos mais aparentes em uma escala na qual o sujeito turista não se faz presente e as contradições provocadas pela atividade no território se distanciam das relações de consumo por não existirem de fato, e o que debruça na paisagem é o silêncio.

Com um indesejável “visitante” como o vírus, parece que o território problematizado pela lógica dos negócios associados ao turismo não se atrela à concepção de otimismo e desenvolvimento. Portanto, reflete-se sobre um espaço que se movimentava pelo turismo e que jamais seria pensado pela descontinuidade real observada em 2020. Nesse momento, torna-se impossível estabelecer metas ou perspectivas para um palco cujo maior público é atraído pela dinâmica turística, e não pelo silêncio das águas termais. Sendo assim, afirma-se que o vocábulo “turistar” remete ao sentimento traduzido pela saudade.


Sobre o autor
Jean Carlos Vieira Santos é Professor e Pesquisador da Universidade Estadual de Goiás (UEG/TECCER-PPGEO). Pós-doutorado em Turismo pela Universidade do Algarve/Portugal e Doutorado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (IGUFU/MG).

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